sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Apropriação de jornais por historiadores e histórias de quem viveu a censura nos jornais marcam palestras do Alcar-CO

Prof. Vitale Joanoni Neto (UFMT) enfatiza que jornais são ferramentas para pesquisadores

Nem a falta de energia e dos aparatos tecnológicos foram capazes de diminuir o ânimo dos participantes do 2º Encontro Alcar Centro Oeste de História da Mídia em boa parte da manhã do dia 31 de outubro. As palestras "Do sertão à fronteira. Diferentes possibilidades metodológicas do uso de periódicos aplicadas ao estudo de casos pelo interior do Brasil" e "50 anos depois do Golpe de 1964. A imprensa continua sob censura" foram proferidas, respectivamente, pelos professores Vitale Joanoni Neto (UFMT) e Sérgio Matos (UFRB).



Para Vitale, os periódicos vêm se tornando ferramentas de estudo capazes de levar os historiadores a compreenderem os processos de mudança na sociedade brasileira.


Censura, medo e ousadia

Ao contar sua história como jornalista atuando em jornais baianos, o professor Sergio Mattos encantou a plateia com sua experiência que envolveu a censura, o medo e a ousadia. Em um dos casos em que recebera um telefonema proibindo a publicação de matérias sobre determinado assunto, respondera que não poderia acatar aquela proibição porque não tinha certeza de que quem estaria do outro lado da linha, seria quem se apresentara de fato. Minutos depois, o jovem jornalista tremera de medo ao recebeu o dito coronel com a proibição por escrito.

Assim, desde a entrevista realizada com Dom Hélder Câmara - nome proibido de publicar pelo Regime - ao desafio do então coronel da Polícia Federal que passava informações privilegiadas a um determinado veículo, Mattos foi relatando experiências desse período sombrio da história.

Diante disso, deixou claro que a imprensa fora, de fato, conivente com o Regime porque cumpria as deliberações recebidas. Eram poucos os jornalistas que desafiavam o regime e as autoridades, pois tinham medo de perder seus empregos e deixar suas famílias desamparadas. Por uns dez anos, no período de 1968 a 1978, não se trabalhava com fontes pois ninguém assumia nada. Falava-se nas entrelinhas.

Ao citar diversos pesquisadores que estudaram as relações da mídia com o regime, salientou que se houve resistência ao Regime, essa foi feita pelos veículos alternativos.

Assim, o pesquisador deixou claro que mesmo depois dos 21 anos do regime militar, a mídia brasileira continua trabalhando sob censura. No início, o regime era identificado por Revolução. Tempos depois é que os pesquisadores e jornalistas passaram a se referir ao movimento militar como Golpe. A mídia – os grandes jornais – conspiraram a favor do Golpe, apoiando –o antes durante os 21 anos de sua duração.