domingo, 2 de novembro de 2014

Palestra sobre violência de gênero marca último dia da Alcar 2014

A Universidade Federal de Mato Grosso [UFMT] sediou, na última semana, o 2º Encontro Centro-Oeste de História da Mídia [Alcar]. O evento aconteceu nos dias 30 e 31 de outubro e contou com a exposição de documentários, GT’s, palestras e debates sobre os50 anos do Golpe Militar no Brasil. As atividades foram realizadas no Auditório do Instituto de Linguagens [IL] da UFMT.

A palestra que marcou o encerramento do evento abordou o tema Mulheres no inferno da ditadura: mídia, memória e história. A atividade foi ministrada pela professora Rosana Schwartz [PUC/Mackenzie] e mediada pelo professor de Jornalismo da UFMT, Thiago Cury. O objetivo foi mostrar a violência, cometida durante a ditadura militar, contra as mulheres. Ainda no decorrer da atividade, história política, relações de classes e machismo foram discutidos.



No slide, ilustração que retrata diferentes formas de tortura sofridas por mulheres
[Foto: Divulgação ALCAR]



Na palestra, a pesquisadora apresentou e comentou trechos do Trabalho de Conclusão de Curso [TCC] desenvolvido pelos formandos em Jornalismo, Diego da Silva Moura, Murilo Pissoli Chamusca e Thiago Sichieroli Almeida, da Universidade Presbiteriana Mackenzie [2013]. O trabalho foi concebido no formato de livro-reportagem e leva o título Não foram só as unhas: as mulheres no inferno da ditadura. Com a presença de fortes depoimentos de mulheres que sofreram tortura física e psicológica durante o período, o trabalho, que foi anexado aos relatórios da Comissão Nacional da Verdade[CNV], teve o objetivo de cobrir historicamente uma parte do período pouco explorada: a violência praticada contra o gênero feminino.

A professora Rosana, orientadora do trabalho, comentou que considera fundamental esse tipo de pesquisa “para que a gente conheça diversas verdades”. Além disso, “essa linha temática deveria ser mais aprofundada porque são poucos trabalhos que abordam diretamente essa questão”, complementa.




Prof. Rosana veio de São Paulo para debater a violência contra a mulher nos tempos da ditadura
[Foto: Carlos Henrique - 6° semestre/JOR]


Destacando a importância do TCC desenvolvido pelos três alunos, a pesquisadora colocou que o trabalho foi pioneiro por levar em consideração a CNV, que, até então, não tinha nenhuma linha de investigação em relação à mulher. Sobre a escolha da temática, a professora revela: “Eu deixo o aluno construir o conhecimento”. Por isso, ela não interferiu na autonomia dos discentes. Rosana finalizou, afirmando que “eles [estudantes] se despiram de suas posições políticas para compreender o ponto principal que era a tortura de gênero”.

Segundo o mediador da palestra, professor Thiago Cury, é importante o debate segmentado sobre esse período da história brasileira. Para ele, quando generalizado, o assunto tende a ficar mais brando. Thiago frisou ainda que é importante valorizar a discussão pelo fato de que, assim, é possível se conscientizar melhor, para que esse tipo de violência não aconteça mais.

A estudante de Radialismo, Ana Carulina Roelis, confessou que ficou tocada com a temática. “Foi muito importante, não só como estudante, mas como mulher, porque eu tinha conhecimento sobre a presença das mulheres, mas não sabia o quanto tinham sofrido”, disse a jovem. Segundo Ana, a palestra despertou uma vontade de pesquisar melhor sobre o assunto, e ainda a fez refletir sobre nosso momento político atual. “Tenho a preocupação de um dia tudo voltar a ser como era”, comenta. “Sou mulher e me coloquei no lugar delas, que sofreram”, finalizou.


O público compareceu em bom número para a última conferência da Alcar Centro-Oeste
[Foto: Carlos Henrique - 6° semestre/JOR]


A CNV foi criada pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012. A Comissão foi idealizada com o intuito de apurar violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988, período que inclui a Ditadura Militar [1964-1985]. A CNV terá prazo até 16 de dezembro de 2014 e é composta pelos seguintes integrantes: José Carlos Dias [advogado criminalista]; José Paulo Cavalcanti Filho [jurista]; Maria Rita Kehl [psicanalista]; Paulo Sérgio Pinheiro [cientista político]; Rosa Maria Cardoso [advogada] e Pedro Dallari [advogado].

A Alcar aconteceu nos dias 30 e 31 de outubro de 2014, no Auditório do IL da UFMT. O evento foi promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia, em parceria com o Departamento de Comunicação Social da UFMT, e foi voltado para acadêmicos, pesquisadores e professores das áreas de Comunicação Social, História e Letras. A temática do encontro, este ano, foram os 50 anos do Golpe Militar no Brasil.

Para saber mais sobre a Alcar 2014, acessehttp://alcarcentrooeste2014.blogspot.com.br/.

Por CARLOS HENRIQUE, CARLOS EDUARDO do blog 6jorUFMT